sexta-feira, 19 de março de 2010

Secretário tem versão contestada e prevê 30 dias para apresentar estudo

Na defensiva e sem revelar o que fará para aumentar dez vezes, em dois anos, o volume de recicláveis coletados em Sorocaba e em cinco vezes, até o final de 2010. Assim portou-se o secretário de Parcerias da Prefeitura, Roberto Juliano, ao dar explicações na Câmara Municipal, na tarde de ontem, sobre a coleta de material reciclável. Rejeitou parte das próprias ações, como afirmações publicadas pelo Cruzeiro do Sul desde o ano passado e nunca antes contestadas. Também negou ter recebido pedidos, comprovados por escrito, de ampliação de parceria com a cooperativa Coreso. Foi contestado mais de uma vez com a expressão não é verdade, dita ao microfone aberto à platéia, ao declarar que a Coreso nunca o procurou, pedindo ampliação da parceria. Mas deixou a previsão de 30 dias para submeter à avaliação do prefeito Vitor Lippi (PSDB) o estudo prometido para o ano passado e que faz em conjunto com universidades para implementar a coleta.

A meta da Prefeitura é atender 50% das residências da cidade com o trabalho dos cooperados até o final deste ano e 100% das residências até o final de 2012. O secretário acredita que em 2012, quando houver cobertura da cidade inteira, 20% de todo o material descartado pela população será destinado para a reciclagem ao invés do aterro sanitário. Hoje Sorocaba coleta para reciclagem o correspondente a 1,8% de todo o lixo aterrado. Segundo o próprio secretário, apenas o esboço do estudo estará pronto em 30 dias e até o dia 5 de agosto, data limite para o uso do aterro São João, a coleta ainda não deverá ter sido implementada porque é preciso adquirir caminhões, galpões e outros equipamentos. Não é coisa que lança da noite para o dia, declarou Roberto Juliano. Descarta qualquer possibilidade de remunerar as cooperativas com R$ 103,00 por tonelada coletada para a reciclagem. Mas a estimativa é que o município gaste cerca deste mesmo valor por tonelada, para enterrar em outra cidade, o material que deixará de ser coletado para gerar renda para as cooperativas sorocabanas.

A proposta da remuneração às cooperativas foi apresentada no ano passado pelo vereador Izídio de Brito (PT) por meio de projeto que Roberto Juliano demonstra ter descartado. Vai ter que dar todo o material, o barracão e ainda pagar pelo serviço? Quanto vai custar isso? A gente tem que fazer a coisa gradativa., disse o secretário de Parcerias. O vereador, que aguardava um novo projeto da Prefeitura desde outubro do ano passado com uma contraproposta de remuneração, declarou que pedirá para o projeto voltar a tramitar, para que os vereadores avaliem o parecer de inconstitucionalidade e tente aprová-lo.

Os R$ 103,00 é o valor que a Prefeitura paga hoje pela coleta feita pela empresa privada, mais a administração do aterro. A partir de agosto, se a Cetesb de fato exigir que o lixo deixe de ser despejado no aterro São João, a Prefeitura, além dos custos com a coleta da empresa privada e do aterro próprio que exigirá trabalho de manutenção por anos, ainda pagará pela exportação do lixo. O edital de licitação para exportação inclusive já é preparado pelo município.

"Quem tem fome tem pressa"
O estudo realizado pela Secretaria de Parceria foi criticado por Rita de Cássia Gonçalves Viana, presidente do Ceadec, entidade que criou a Coreso. Segundo ela a Prefeitura deixa de auxiliar as cooperativas em momento de crise para promover um piloto de humanização para chegar aos mesmos resultados da Coreso e que já foram adotados por muitas cooperativas. Este piloto já aconteceu em 2005. É minimamente desconhecer a história de luta pela implantação da coleta seletiva em Sorocaba, declarou.

O secretário de Parcerias adiantou alguns detalhes do estudo: tirar a coleta puxada por carrinho e usar caminhões. Defendeu que é preciso fazer como na coleta de lixo, em que o caminhão passa na rua no dia certo e na hora certa. O que acontece muito hoje? O cooperado, no dia que não quer trabalhar, ele não vai. Daí o lixo está na sua casa, você acaba sendo desgostoso e joga fora. A gente está investindo neles para dar fidelidade, porque não pode faltar, argumentou Roberto Juliano.

A resposta chegou após minutos, do microfone da platéia. Não tenho a formação que o senhor tem, mas não sou tonto, e entendi que o senhor xingou a gente de vagabundos, o que não é verdade, porque nóis (sic) luta. Passa um dia trabalhando com a gente para o senhor ver como a gente luta, quem conhece o nosso trabalho sabe que a gente não é vagabundo, declarou o cooperado e presidente da Coreso, José Augusto Rodrigues de Moraes.
Jornal Cruzeiro do Sul
Foto: Naiçara Garbin

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