segunda-feira, 30 de novembro de 2009

'Conflitos políticos' derrubam Jair Molina

Sob a alegação de conflitos políticos na Câmara Municipal, que teriam criado “muitas situações de divergências com o governo”, o prefeito Vitor Lippi (PSDB) exonerou o secretário de Transportes, o engenheiro Jair Sanches Molina, “apadrinhado” político do vereador Caldini Crespo, presidente do Diretório Municipal do Partido Democratas (DEM). Um dia antes, diante de comentário sobre a possibilidade de exoneração de Molina, o prefeito, que estava em viagem ao Rio de Janeiro, por meio de nota, foi taxativo: “Essas informações não passam de boatos e não há nada confirmado quanto à saída do secretário Rodrigo Moreno e nem quanto à exoneração de Jair Molina. (...) essas informações tratam-se apenas de especulações”.

Com a exoneração de Molina, em onze meses do primeiro ano do segundo governo, Lippi perde o 9.º secretário. “Renovação” de 45%. Caso o secretário de Administração, Rodrigo Moreno, se afaste, como ele próprio anunciou com exclusividade ao Cruzeiro do Sul, na noite de quinta-feira, Lippi terá trocado metade do secretariado. Renato Gianolla, presidente da Urbes, irá acumular a Setran deixada por Molina.

A nota com o anúncio da exoneração foi encaminhada à imprensa por volta das 17h. Nela, Lippi afirma que “apesar de o engenheiro ter demonstrado grande empenho e dedicação no período que esteve à frente da pasta, os conflitos políticos na Câmara Municipal criaram muitas situações de divergências com o governo” e que a opção pelo nome de Gianolla foi, segundo ele, a “mais natural possível” em virtude da sua “vasta experiência” profissional na área de transporte.

Jair Sanches Molina é vice-presidente do DEM em Sorocaba e sua nomeação para integrar a equipe do governo Lippi, no segundo mandato, teria ocorrido depois de um suposto acordo entre a cúpula tucana local e o presidente do Diretório Municipal do Partido Democratas, o vereador Caldini Crespo. Após a eleição, Lippi sempre negou o acordo. Crespo, por sua vez, argumenta que o entendimento seria de três secretarias.

Desde que assumiu a Setran, Molina era alvo de críticas, inclusive de vereadores da base aliada, que argumentavam que a pasta não “deslanchava”. No dia 20 de outubro, durante audiência pública na Câmara para apresentar aos parlamentares prioridades para os R$ 4,7 milhões previstos no orçamento de sua secretaria para 2010, Molina saiu de lá sem mostrar projeto prático e se comparou a São João Batista, dizendo que seu cargo é o de “preparar o caminho”.

“Colecionando notas”
Jair Molina foi procurado nesta sexta-feira (27) pela reportagem para comentar sua exoneração, mas não foi localizado em seus dois números de aparelhos celulares. Quinta-feira (26), sobre os rumores de sua saída, ele disse que não se tratava de novos boatos e notas na imprensa, que ele estaria colecionado. Afirmou que estava trabalhando e não via motivos para que o prefeito viesse a exonerá-lo. “De minha parte estou em paz e tranquilo”, ressaltou na ocasião.

Na Câmara, o padrinho político de Molina, Caldini Crespo, em diversas ocasiões teria colocado o governo em situação constrangedora, segundo chegou a afirmar por várias vezes o prefeito, em entrevistas. Sempre disse ser aliado do prefeito, mas não “alienado”.

Ontem, ao tomar conhecimento da exoneração de Molina, Crespo afirmou lamentar o fato e que convocou uma reunião com os membros da Executiva do DEM para tratar do assunto e divulgar nota oficial até o final da tarde. “Esse é um assunto do partido. Em respeito à sigla vou convocar uma reunião para o meio-dia. Volto a dizer que o prefeito é meu amigo e aliado, mas lamento essa decisão”.

Antes da exoneração
Dez minutos antes -- Lippi ainda não havia anunciado a exoneração de Molina -- Crespo, em entrevista à reportagem para comentar sobre as declarações do secretário de Governo, Rodrigo Moreno, e do diretor-geral do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Geraldo Caiuby, de que suas atitudes, classificadas por eles, como “artes”, poderiam “respigar” em Molina, disparou: “Eu duvido que Jair Molina seja exonerado por motivos políticos. O papel de Molina é técnico. A questão política é outra. No acordo eleitoral nosso, nós não falamos de 2012 e também qual o seria o comportamento do partido Democratas na Câmara Municipal. Eu como vereador, estou dando um bônus para o prefeito”.

Ele foi além: “O cargo foi indicado pelo partido por conta do acordo eleitoral do ano passado. O Geraldo Caiuby não participou de nenhuma reunião realizada no ano passado, especialmente na pré-campanha. Gosto muito da pessoa do Geraldo, mas ele não tem credencial nenhuma para tocar nesse assunto. Eram três secretarias por sinal. O melhor sapateiro não deve ir além das correias. O que eu quero dizer é que Caiuby é um ótimo secretário e esse tipo de declaração quem deveria dar é o prefeito”.
Jornal Cruzeiro do Sul

Notícias CNM/CUT