No ciclo de doze meses, a coleta de lixo seletivo na cidade 'andou para trás': de 306 toneladas de lixo para reciclagem recolhidas por mês em 2008, a média mensal não passa de 167 toneladas-mês neste 2009
A coleta de material para reciclagem feita por cooperativas em Sorocaba caiu quase a metade de 2008 para 2009. Com a redução do valor pago pelo material coletado a média mensal de 306 toneladas recolhidas pelas quatro cooperativas no município em 2008 diminuiu para 167 toneladas neste ano, 139 toneladas a menos. O resultado são centenas de sorocabanos reclamando que ninguém mais leva o material inorgânico que costumavam entregar aos cooperados.
Muitos moradores continuam separando na esperança de que alguém se interesse, mas lamentam que acabam misturando com o mesmo lixo levado para o aterro sanitário. Com final da vida útil prevista para o final do próximo ano, o aterro sanitário com os dias contados continua recebendo a média de 11.940 toneladas de lixo por mês. Ou seja, nem 1,5% do volume que vai para o aterro sanitário é coletado pelas cooperativas atualmente. Estudos mostram que cerca de 20% dos descartes poderiam ser reciclados.
Além de ambiental o prejuízo também é social e ainda onera a população. É que a coleta de lixo feita pela concessionária Gomes Lourenço custa à Prefeitura R$ 65,26 por tonelada, excluindo-se o valor cobrado pela manutenção do aterro sanitário. Logo, a média de 11.940 toneladas levadas ao aterro custam a cada mês R$ 779.204 em impostos recolhidos pela população. Se o destino de todas as 139 toneladas que deixaram de ser reaproveitadas pelas cooperativas neste ano também estiverem sendo o aterro sanitário, elas deixaram de alimentar famílias de cooperados para mensalmente onerarem em R$ 9.071 os cofres municipais.
Mas as principais vítimas são mesmo os humildes e com pouco estudo cooperados que sentem o problema no bolso. A maioria desses viu suas remunerações reduzirem-se a mais da metade. Se alguns chegaram a ganhar mil reais ou até pouco mais por mês coletando e separando materiais recicláveis no ano passado, hoje há os que viram suas remunerações ficarem menores do que um salário mínimo. Agora há quem chegue a retirar menos de R$ 150,00 ao mês. A conseqüência tem sido a desistência do cooperativismo em busca de qualquer outra atividade que lhes deêm alguma remuneração, mesmo que não seja ambientalmente responsável ou que lhes garantam a dignidade.
A Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso) responsável pela coleta na maior parte da cidade, e até o ano passado a maior de todas em Sorocaba, sofreu a maior debandada. Perdeu 107 cooperados, suspendeu as atividades de um de seus cinco núcleos e clama por ajuda da Prefeitura. Atualmente tramita na Câmara um projeto de lei propondo que a Prefeitura passe a pagar aos cooperados mandar para reciclagem o mesmo valor que paga à concessionária de lixo para mandar o material para o aterro. Prefeitura e a própria Câmara vêem problemas jurídicos na proposta que poderia recuperar a situação. Até o momento ninguém apresentou alguma possível solução.
Jornal Cruzeiro do Sul
Reportagem: Leandro Nogueira
Foto: Aldo V. Silva