segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sorocaba: Na crise, 2.500 toneladas de recicláveis deixaram de ser aproveitadas

A cidade de Sorocaba deixou de aproveitar pelo menos 2.500 toneladas de materiais recicláveis durante a crise financeira que assolou o mundo durante os anos de 2008 e 2009. Rita de Cássia Gonçalves Viana, presidente do Centro de Estudos e Apoio ao Desenvolvimento, Emprego e Cidadania (Ceadec) - do qual a Coreso faz parte - estima que esta foi a quantidade de recicláveis que a cooperativa deixou de recolher desde o início das turbulências econômicas em setembro de 2008. Esta retração, segundo ela, foi consequência da queda brusca da demanda por recicláveis e a queda no preço pago por muitos materiais.

Foram 20 meses desde o início da crise e, neste período, a entidade também sofreu muitas baixas em seu quadro de cooperados que caiu de 146 para 46. A presidente do Ceadec lembra que no momento mais crítico a entidade ficou com 37 catadores. Antes da crise, no fim de 2008, a entidade coletava 240 toneladas de recicláveis por mês. Durante o período de turbulências o volume de material oscilou entre 70 e 80 toneladas por mês. Agora, afirma Rita, os cooperados estão trabalhando com 100 toneladas de produtos recicláveis. "Esta estimativa de 2.500 toneladas é humilde pois vínhamos em um movimento crescente e se continuássemos no mesmo ritmo teríamos ultrapassado as 240 toneladas", lamenta.

Este cenário de retração na demanda teve reflexos também no ganho dos cooperados que passaram de R$ 650 mensais para R$ 200. "Mais de cem pessoas deixaram a Coreso. Essas pessoas precisam comer, então, mesmo a gente falando que era uma situação passageira, eles tiveram que buscar outra coisa", pondera. Apesar de menor remuneração mensal os cooperados continuaram a ter proteção social por meio da Previdência Social.
Renda para 250 famílias
A venda de recicláveis por meio de cooperativas é um modelo de gestão importante para quem depende do lixo para conseguir seu ganha pão. A Coreso faz parte da Rede Cata Vida que, na região, chegou a contar com 460 cooperados. "Eram 460 famílias que tiravam renda da reciclagem e hoje são 250 na região", afirma Rita.

Entre os cooperados que não deixaram a Coreso, está Celso Vataro, 45. Ele é uma das testemunhas dos maus bocados enfrentados pela cooperativa. Na Coreso há oito anos, Celso explica que só conseguiu permanecer trabalhando com recicláveis pois a esposa tem outro emprego. "Graças a Deus ela estava trabalhando. Teve época que recebi de R$ 300 a R$ 350. Foi difícil, mas agora já deu para ver uma luz", brincou ele.
Retomada parcial
Atualmente, a Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso), retomou cerca de 25% do volume de trabalho mas ainda falta muito para serem alcançados os patamares anteriores às turbulências econômicas. Rita destaca que o óleo de cozinha usado foi o único produto não prejudicado com a crise. "Conseguimos manter mas por conta da manufatura pois o produto passa por um processo de agregação de valor", afirma. O óleo de cozinha reciclado pode ser usado como biodiesel ou na ração animal.

Em janeiro melhorou um pouco e cada cooperado está com ganho mensal de R$ 500, aproximadamente. Durante os meses mais críticos da crise alguns produtos deixaram de ser comercializados como, por exemplo, o papel misto. Antes das turbulências, afirma Rita, este material era vendido por R$ 0,20 o quilo. Agora, o preço chega a R$ 0,08. "Não tinha mercado e os produtos começaram a virar estoque. Os catadores não pegavam mais os recicláveis e o que não foi recolhido vai para o aterro", alerta. O papelão é outro item usado para exemplificar a fala de Rita. Segundo ela de R$ 0,55, o quilo passou para R$ 0,14 e, atualmente, a cooperativa consegue até R$ 0,32 no quilo de papelão.

Jornal Cruzeiro do Sul

Notícias CNM/CUT