terça-feira, 6 de abril de 2010

Desenvolvimento depende de reforma do Estado

Presidente do Ipea falou sobre desenvolvimento em audiência da Câmara Municipal de Sorocaba


Em palestra na Câmara Municipal de Sorocaba na manhã desta segunda-feira (5/4), o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Márcio Pochmann, afirmou que o desenvolvimento do País depende de uma ampla reforma do Estado. "O Estado está defasado, opera como se estivesse no século XIX", observou. "Frente às dificuldades fomos constituindo caixinhas que operam setorialmente, em muitas vezes até competitivamente", criticou.

A coordenação de diferentes áreas em torno das políticas públicas foi apontada pelo economista como ação fundamental no sentido de reduzir o custo das políticas públicas e ampliar sua eficácia. "Precisamos repor nossa capacidade de construir políticas públicas", afirmou Pochmann. "O conceito de desenvolvimento ficou durante duas décadas num segundo plano porque se imaginou que esse seria um processo natural, que surgiria apenas pelo esforço das forças de mercado, não cabendo, portanto, ao Estado, aos atores sociais ajudarem na construção da perspectiva", completou.

Ele também destacou a necessidade de participação dos diferentes setores da sociedade na discussão das políticas públicas. "O Brasil foi, entre as décadas de 30 e 70, um dos países que mais cresceu no mundo e nesse período de expansão, a convergência que conduziu o desenvolvimento brasileiro não teve o horizonte democrático", explicou Pochmann. "Foram 50 anos de expansão econômica, com apenas 23 anos de regime democrático, e essa convergência política, de certa maneira, alijou determinados segmentos sociais, entre eles os trabalhadores, o movimento social, de tal forma que a expansão da economia brasileira permitiu que o Brasil aumentasse sua produção sem vir acompanhado de uma melhor distribuição dessa riqueza".

A realização de 55 Conferências durante o Governo Lula foi apontada por Pochamnn como uma experiência que tem servido de exemplo para o mundo. "As Conferências ajudam a produzir políticas públicas diferentes, que sejam capazes de conectar os diferentes saberes da nossa sociedade e ajudar a construir o planejamento do nosso futuro", salientou. O papel do Legislativo nesse processo também foi apontado pelo economista. "Os Legislativos são centros de conhecimento, assim como sindicatos, empresas, associações de bairros", disse.

Mudança de Eixo

Pochmann explicou que nas últimas décadas o desenvolvimento econômico tem sofrido uma mudança de eixo. "Quem puxa o crescimento brasileiro não são mais as cidades grandes, as capitais. O que está fazendo o Brasil diferente é o crescimento descentralizado", explicou. Ele lembrou que entre as décadas de 30 e 80 o Brasil era visto como uma ferrovia, em que um trem era puxado pela locomotiva estado de São Paulo.

"Ocorre que nas décadas de 80 e 90, São Paulo teve o segundo pior desempenho econômico", observou Pochmann. "De 1990 até 2005, São Paulo cresceu 2,1% ao ano, enquanto a média do País foi 2,3% ao ano", completou. Segundo o economista, estados do Centroeste cresceram mais de 5% e do Norte quase 7% ao ano. Ele apontou ainda que o desenvolvimento não está mais assentado apenas na indústria ou na agropecuária que 2/3 da produção nacional está associado ao setor dos serviços.

Márcio Pochmann concluiu afirmando que o Estado precisa ser readequado. "O Estado que temos hoje não está contemporâneo dos nossos desafios e temos duas décadas para enfrentar isso", afirmou. "Não há nada que nos impeça de transformar a realidade que não seja o nosso medo, o medo de ousar, de fazer diferente, de deixarmos de sermos governados pelos mortos. Um evento como esse nos ajuda não só a afastar o medo, mas construirmos de forma coletiva o novo", concluiu.

O seminário, de iniciativa do vereador Izidio de Brito Correa (PT), foi organizado numa parceria com o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região e contou com a participação do deputado estadual Hamilton Pereira (PT) e da Secretária de Ação e Cidadania de Sorocaba, Maria José de Lima. Também estiveram presentes os vereadores Geraldo Camargo, de Piedade, e Antônio Sérgio Nery, de Iperó, além do presidente do PT de Sorocaba, José Carlos Triniti Fernandes, e representantes do movimento sindical e sociedade civil organizada.

AI Deputado Estadual Hamilton Pereira

Notícias CNM/CUT