terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Educação profissional deve estar acessível a todos

Além destravar a articulação para instalação de uma unidade federal de ensino profissional em Sorocaba, a audiência pública "Qualificação Profissional e Escola Técnica Federal", realizada na Câmara Municipal de Sorocaba na noite de 22/2, também debateu a trajetória histórica do ensino profissional no Brasil e a necessidade de democratização do mesmo.

Segundo o doutor em educação, professor Celso Ferreti, que tem atuação nos temas trabalho, orientação profissional e trajetória ocupacional, há uma distância muito grande entre as escolas profissionalizantes e o mercado de trabalho. Ele falou sobre os conceitos de qualificação substancialista, que defende que o aluno deve conhecer todo o processo técnico do seu trabalho, e a relativista, que aponta a necessidade não só do conhecimento técnico, mas também do padrão de comportamento na sociedade.

"Há uma defasagem grande entre a formação da escola e as condições reais de trabalho que o mercado oferece", afirmou Ferreti. "Quando se diz que existem empregos, mas não há trabalhadores qualificados, é preciso entender se qualificado dito pelo empregador é o que está dizendo a escola", completou. O professor apontou ainda práticas que interferem na realidade do mercado, como a desregularização do emprego, ocorrida através das terceirizações, contratações temporárias e férias não remuneradas.

Ferreti falou também sobre a "dualidade" que marcou a história da educação brasileira, quando a educação propedêutica, de base teórica mais ampla, era voltada para a parcela economicamente mais abastada da sociedade, e a educação profissional era destinada para a parcela mais empobrecida, cujas perspectivas de assumir posições de direção na sociedade eram tidas como menores.

"Essa realidade colocada pelo professor Ferreti é muito parecida com a de Sorocaba", afirmou a representante do MEC no estado de São Paulo, Iara Bernardi. Ela lembrou a resistência do município em trazer as escolas normais, quando Itapetininga já contava com uma, assim como a busca pela universidade pública. "Em relação à escola técnica federal, Sorocaba pode ter até mais que uma, mas não tem nenhuma, enquanto na região já existem quatro (São Roque, Boituva, Itapetininga e Salto)", observou.

Para Ferreti, o problema da educação profissional no Brasil só poderá ser resolvido através da oferta de escolas a toda a população com qualidade e condições. O professor citou o decreto 5154, do Governo Lula, que propõe o ensino médio integrado, em contraposição à concepção "liberal burguesa", que considerava que o trabalhador deve receber educação suficiente para operar bem equipamentos. Segundo ele, a medida segue a linha da proposição socialista, em que trabalhadores devem dominar o conhecimento técnico, mas também o científico de como se desenvolve o processo produtivo.

Segundo o reitor em exercício do Instituto Federal de São Paulo, Garabed Kenchian, tal perspectiva já existe nos Institutos Federais. "Os cursos são prioritariamente noturnos porque nosso foco está no trabalhador, o profissional tem a possibilidade de voltar ao Instituto para atualização, desenvolvemos pesquisa e extensão com foco nos meios de produção e vivemos em ambiente crítico e democrático, em contato com as contradições da sociedade", explicou.

Garabed citou ainda um estudo que aponta que o investimento necessário para uma boa formação no ensino médio não deveria passar R$3,5 mil/ano por aluno. "Em São Paulo, investe-se R$1 mil/ano por aluno, o que de maneira simplista nos leva a concluir que seria necessário triplicar os investimentos estaduais nessa área para se chegar a um bom nível educacional", ponderou.

AI Deputado Hamilton Pereira

Notícias CNM/CUT